segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Restou o charme

Não quero o gosto do meu nome
No esgoto do teu
(mesmo em esquinas alheias)

O charme do Chorume é o cheiro.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Páginas interiores

Sempre me pergunto sobre o que fazer com o passado.... O fato é que, muitas vezes, tenho a impressão de que não aprendemos a subtrair (ou isso seria nos trair?)
É como se a nossa memória nosso corpo e emoções fossem como o “clichê” da natureza onde nada se perde e sim se transforma. Não pretendo ser então inédita esse privilegio é da sessão da tarde. O texto serve mais pra tentar organizar o “inorganizável” da consciência-memória-emoção.
Minha dúvida reside na posse das coisas, por que desconfio que o tempo não me permita a posse das coisas? E me refiro às sensações mais especificamente. Por que cheiro de maracujá nunca será meu e sim do perfume de um romance que nunca aconteceu? Por que o baixo na introdução daquela música será sempre do amor passado? Por que a fruta partida no prato será sempre da avó?Por que aquele disco antigo será sempre do pai? E aquela comparação sobre meus olhos será sempre duma interrogação?De quem é o que? Há posse?
Onde se perde e encontram os contornos de mim nos olhos dos outros impregnados em mim?

Queria ouvir o Caeiro e escolher a realidade ao invés do tempo. Escolho tudo. Escolho a palavra.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Canção Cansada

Cansada de tanta guerra
De tanta boca
De alma oca
E rima pouca

Cansada de tanto erro
De desesperos
Desses pés ermos
Conjuntos inteiros

Cansada da língua-cimento
De tanto lamento
E o coração?
Eterno remendo...






segunda-feira, 13 de maio de 2013

As margens do mar



Insondável boca
que erra pelas praias do avesso
cinza que escorre do céu para o chão
pés por águas e silêncios lambidos
Insólita dama, bendigo teu nome
És caça
És fluida
És mar - movente estranheza
impronunciável certeza
de amar
Cala-me.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Favorito



Dei  a ele meu poeta favorito
E também dei a outro
Ele deu a ela meu poeta favorito
Porque agora era dele
Também o poeta
Sorte do poeta ser de todos
Sorte minha ser poeta.

         

domingo, 21 de abril de 2013

terça-feira, 16 de abril de 2013

Lar



Os céus cegam meus pés
O meu interior de abismos
Os dias arrancam minhas mãos
Nos abissais das entranhas
As “não alegrias” verdes em fim de tarde,
No fundo do pouco dos meus versos

Na fina e tremula bandeira,
esteada na terra natal de meus olhos.

domingo, 7 de abril de 2013

Chamada


Com a mão entre as pernas
Com a cabeça sobre as mãos
Sem juízo Grito
a madrugada  infinita
A vaga dos sons
Dos teus passos no corredor
A mais pura ausência de mim

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Re-buscado


Qualquer canto
em qualquer canto
é o claro-escuro
de nosso quadro barroco
é um refrão
que jamais estará oco
música que arde
rara como a arte

terça-feira, 26 de março de 2013

Amolada



                     Para Ricardo Thadeu

Enfio minha pexêra
No bucho da sílaba.

E lambo o sangue da rima.

Na língua,
Latejam os “ais”
da estrofe.

quarta-feira, 13 de março de 2013


Mais uma dose de verso.
Preciso. Abrigo. Abismo.

(entre crianças e pássaros)

Mais uma dose de verso.
Desenhando o silêncio
as testemunhas de mim.

Mais uma dose de verso.
Disperso. Dispenso. Despeço.

Mais uma dose de verso.
Embora, outrora aurora (veria)

Mais uma dose de verso. (enfim)
A desembriagar jamais estaria

domingo, 10 de março de 2013

Permissão


      Para Joilson Santos

Há dias
em que não se pode
começar um poema,
com a palavra dia,
com a palavra noite,
com a palavra sol,
com a palavra nua...

Há dias
em que não se pode
começar um poema.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Conto


Eu na sacada a esperar
Tu e teus atentos
Tu e teus “senãos”
Tu e teus cavalos
Na selva relva a “ah! Guardar”
Quando me fará homem
Quando me amará João?

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Bússola


Dedilhadas dores
E silêncios meus
Pois que infinita é a música
Tal qual a generosidade
e a crueldade
de Mnemosine

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Sumo


Imaginei-te morena
Entre pomares

Enquanto canta a nação
uma canção
para tuas aves

e que me cega
enquanto,no sertão, neva
e enquanto os eucaliptos dançam.

Impenetráveis cores as tuas
toco o território sagrado
de tua pele
desato. Ato.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

A postos


Para ser troféu empoeirado
Na tua estante
Para ser uma canção perdida
Em teus vinis
Para ser o contorno de um corpo
Entre os lençóis
Para ser fome e sede
Jamais saciados
Para ser a palavra doce
que  na dança
não será escutada
Para ser o verso que chega
E que vai.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Rubor

E corada estive
Quando de súbito soube
Que decoraste o cheiro meu

Vermelha era boca
Vermelha a memória
Do licor-cheiro meu
...vermelho e doce

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Território



E canto para que beije
O sexo e os seios
De tuas outras mulheres

Calo meus olhos
e sonho
ou que morras
e que tanto ame

e sobretudo desejo
o saboroso toque
da presença de tua ausência
da ausência de tuas ausências.