sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Sobre a inveja do lixo

Pois que me faltam pelos cabelos e bocas encarnadas
Me falta a carne que não treme
Pois que me falta a água, a mágoa, salivas e outros fluidos a escorrer pelo chão
Faltam-me ainda contos, lençóis e camas
Falta sempre um pijama – figurino de festa

Falta-me a atitude, coragem, palavra solta
Falta ser cool, Cult bacaninha
E quem sabe assim meio patricinha
A encantar boys e girls desavisados

Faltam cabeças de deuses e deusas
Num figimento de fé
(fé sempre me falta)
Falta um pedaço de mar nos olhos
Falta um retrato meu pintado a óleo

Faltam-me centros e margens como as dela
Falta-me a malandragem como a dela
Faltam as unhas pintadas como as dela
Faltam doces-balas-chicletes como as dela
Faltam vírgulas no meu verso
Como ela

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

A Palavra dívida

No fim, só desejo o silêncio
A calmaria, a luz
Se meu caminho não foi de incêndios
Perdoo-me
(ainda que por instantes)
E admito:

Meu coração é sempre chama.



sábado, 15 de fevereiro de 2014

Eu era ruiva no carnaval


E eu sempre retorno às páginas anteriores a ver sangue, suor, sujeira e neuroses. Figuras repetidas, lamaçais, estradas de sapatos trocados. A memória é um calabouço de ilhas a torturar corações e sonos.

E sempre retorno às interrogações – minhas sinuosas cordas vocais. Queria mesmo ser o cara de jeans gasto, jaqueta de couro, óculos escuros, coturnos impiedosos, isqueiro na mão – incendiando a cidade. Rindo do inferno.

E sempre retorno aos medos pois que ele – outro – guardou amores, sonetos e vinte e nove beijos para mil mulheres... mas desembarcou aos meus pés; e confesso: não consigo ficar de pé enquanto essa onda me abraça.



 Outras Sinapses

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Minhas

Porque o poema me faz arder
me faz doer
me respira e expurga
e ao caminhar pela palavras sinto,
arrepiar-me as bochechas e rimas
meus silêncios e meninas.