sábado, 15 de fevereiro de 2014

Eu era ruiva no carnaval


E eu sempre retorno às páginas anteriores a ver sangue, suor, sujeira e neuroses. Figuras repetidas, lamaçais, estradas de sapatos trocados. A memória é um calabouço de ilhas a torturar corações e sonos.

E sempre retorno às interrogações – minhas sinuosas cordas vocais. Queria mesmo ser o cara de jeans gasto, jaqueta de couro, óculos escuros, coturnos impiedosos, isqueiro na mão – incendiando a cidade. Rindo do inferno.

E sempre retorno aos medos pois que ele – outro – guardou amores, sonetos e vinte e nove beijos para mil mulheres... mas desembarcou aos meus pés; e confesso: não consigo ficar de pé enquanto essa onda me abraça.



 Outras Sinapses

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Minhas

Porque o poema me faz arder
me faz doer
me respira e expurga
e ao caminhar pela palavras sinto,
arrepiar-me as bochechas e rimas
meus silêncios e meninas.



sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Versos de vestido

Lembre-me de me vestir
Das roupas que o pretérito
 Arranca das minhas carnes
E dos dedos que não escreviam versos

Lembre-me dos arquipélagos
 das cirandas que danças
lembre que eu não venero
o que ataca o peito  feito lança

lembre-me de que devo
traçar as linhas de dentro
fazer  tão somente o relevo
de signos que não compreendo

Lembre-me da beleza
Dos silêncios que não contenho
Das feridas que não calam
E dos ritmos da minha’lma



segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Restou o charme

Não quero o gosto do meu nome
No esgoto do teu
(mesmo em esquinas alheias)

O charme do Chorume é o cheiro.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Páginas interiores

Sempre me pergunto sobre o que fazer com o passado.... O fato é que, muitas vezes, tenho a impressão de que não aprendemos a subtrair (ou isso seria nos trair?)
É como se a nossa memória nosso corpo e emoções fossem como o “clichê” da natureza onde nada se perde e sim se transforma. Não pretendo ser então inédita esse privilegio é da sessão da tarde. O texto serve mais pra tentar organizar o “inorganizável” da consciência-memória-emoção.
Minha dúvida reside na posse das coisas, por que desconfio que o tempo não me permita a posse das coisas? E me refiro às sensações mais especificamente. Por que cheiro de maracujá nunca será meu e sim do perfume de um romance que nunca aconteceu? Por que o baixo na introdução daquela música será sempre do amor passado? Por que a fruta partida no prato será sempre da avó?Por que aquele disco antigo será sempre do pai? E aquela comparação sobre meus olhos será sempre duma interrogação?De quem é o que? Há posse?
Onde se perde e encontram os contornos de mim nos olhos dos outros impregnados em mim?

Queria ouvir o Caeiro e escolher a realidade ao invés do tempo. Escolho tudo. Escolho a palavra.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Canção Cansada

Cansada de tanta guerra
De tanta boca
De alma oca
E rima pouca

Cansada de tanto erro
De desesperos
Desses pés ermos
Conjuntos inteiros

Cansada da língua-cimento
De tanto lamento
E o coração?
Eterno remendo...